sexta-feira, 4 de novembro de 2011

around me.

Desconcertado. Uma espécie de abertura e paredes construídas o fez pensar sobre o estar aqui e sempre agora. Nomeou afetos e desistiu, pensou em como se conta o tempo sem pensar em mãe pai logo ali acharia o caminho. Desejou a travessia das formigas. Concha, como ele mesmo se nomeou, riu do próprio substantivo de ser. Não entendeu como a pintura do seu retrato era mentira nas mãos dos outros, pouco se sabe. Degustou a inveja e desenhou a mentira sobre a verdade e imediatamente alguém nomeou o pulso de querer demais além da paixão. Inveja não existe seu bobo pobre em sentimentos calcados no limite do pouco.
"Ninguém saberá e todos me abraçarão", ria como uma descida brusca e perpétua. Acreditou no sempre e agora faz lacinhos de cetim posta muda na mesa dos doces, viu a família dos pobres na cama e quis fugir. Uma sopa cairia melhor para ser generoso com o mundo. Fez fila com seus consigos e não se reconheceu, talvez pensou sobre aquela mesma falta e nada disso é metáfora ou figurinha de linguagem. A própria existência sentada debaixo da antena parabólica.
Foi feliz depois de dormir, não acordou em casa e rolou feito pérola falsa na mão da moça feito ele mesmo.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Embora.

Estou tão acostumado aos cortes de suas palavras que você não desconfia que elas me fazem redobrado: espécie de infiltração, meio parede meio água. Você quer se livrar de mim e eu já liberto de tanta coisa desse mundo.
Eu nem sequer consigo mais produzir memória, fico fantasiando as mais exuberantes formas de paternidade sem qualquer dor de me sentir só.
Quando você terminar de ler "Transferência Planetária" eu te conto o que é sair de si por um instante- transferência de você por si. Você não vai acreditar em ver sua pele se explodir em uma porção de fragmentos luminosos que formam um enorme golfinho que pisca uma luz roxa e vermelha no seu rosto com uma música bem alta e sem letra e estaremos perto da casa que não tinha teto não tinha nada e estaremos de mãos dadas para pular de ponta cabeça no vulcão. Você me contou que os golfinhos são os únicos animais que se reconhecem no espelho. Você consegue?
Eu me preocupo com seu olhar cru, sem vontade de mudança e esperando a qualquer momento o melhor que as coisas poderiam dar. Coisas extremamente concretas e tatéis são descartáveis demais para oferecer de referência a serezinhos humanos, e as suas sempre com um tom de não serem suficientes, parece que nunca serão.
Eu te ofereço uma sala de cinema pequena e antiga, só vai estar você. O maior saco de pipoca disponível e um filme que faça você dormir. Quieto, por favor.
G. BORGES

sábado, 17 de setembro de 2011

Passos largos geram pequenas avalanches de poeira.

Dois passos e um som distante me lembraram cidade, a cidade me lembrou.
Ônibus rapidinho, desvio, mulher na bolsa amarela pela esquerda, sorrio, e depois desvio, gota, mão no bolso, mãos rápidas e um telefone, não gosto, não desvio, desvio.
Pequenos espaços a serem atravessados geram uma súbita relação com o perigo do outro. Ainda com calor e com tanta gente. Tem flor no cabelo dele, tem ela com desejo e jornal bobo na mão, tem todas as velhinhas maquiadas do mundo, tem uma dança que não para.
Fica uma parte minúscula, do que te fez um instante ter sido aquilo tão existente, no pouco tempo impreciso.

sábado, 10 de setembro de 2011

Estabeleça.

Desses tempos amontoados eu observo. De tanto silêncio, no vulcão que nada prevê a expurgação dos afetos, acabarei por comunicar o que nada sabem dos substanciais pressentimentos. Esteja tão perto para assegurar a única certeza que pulsa movimentos arrebatadores: dormir, morrer nada mais. Compreender a morte como vontade instantânea, uma pipa pulsante para a vontade imediata. Sem ela há flor e silêncio.
Desculpa ser tão impostor, mas algo declama poros e chora peitos. Eu preciso me enquadrar, eu quero ter filhos.
Seremos um trem fincado a espera do final do filme e eu ainda desisto do toque.
A rotina estabelece o preenchimento diário dos afetos e seus furúnculos doces, os mesmos que me tornam dramaticamente medíocre.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Cada macaco no seu galho.

Ainda perderei o fluxo com essa incansável mania de colocar os olhos sobre o entre. Sobre aquilo que está por trás das pequenas formas coloridas e não. Sacrifício diário para colocar meus segredos em cor, em tom grave, em posturas articuladas. E não há sabor maior que os mistérios da espontaneidade já vivida.
Entre duas pessoas farejo o fio translúcido que atravessa a comunicação e as fazem esbanjar códigos confidentes- ali mesmo quero me agarrar.
Tomo uma dose de melancolia, assim dor, assim doce.
O tempo escapa do momento presente e lá estou eu e minha cabeça a captar sensações. Eu me lanço para a conversa baixa, o homem do metrô, a multidão e seus pobres padrões, a poeira que dança lentamente.
Eu coleciono existências a qualquer instante.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

ditado aspecto.

. Companheirismo sutil e delicado dos gestos
. Compreensão rápida dos gestos
. Jogo de domínio
. Evidenciar os doces defeitos
. Insatisfação com o tempo e o que dele você me toma
. Oposição dos impulsos, membros e trajetórias
. Afastamento e incompreensão geram curiosidade mais que sedução
. Tensão colorida no espaço
. O maior encontro dos olhos do mundo não acontece
. Abraços suspensos e introspectivos
. A contradição do espaço e dos nossos corpos